ATA DA TRIGÉSIMA QUINTA QUADRAGÉSIMA SEXTA SESSÃO
SOLENE DA SPRIMEIRAEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA,
EM 08.11.1990.19-10-1989.
Aos oito dezenove dias do mês de novembrooutubro
de mil novecentos e n oitenta e
noveoventa,
reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de
Porto Alegre, em sua QuadragésimaTrigésima Quinta Sexta Sessão Ordinária Solene da Décimada Segunda Sessão Legislativura Ordinária da Décima Legislatura, destinada a
assinalar as luta dos povos
árabes pela retirada das tropas estrangeiras do Golfo Pérsico. concessão do Título
Honorífico de Cidadão Emérito ao engenheiro
Fúlvio Celso Petracco, concedido através do Projeto de Resolução n 35/85 (Proc.
Nº 2604/89). Às dezessete horas e quinze trinta e
quatro minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhorr. Presidente
declarou abertos os trabalhos e solicitou e solicitou aaos Líderes de
Bancada que conduzissrem
ao Plenário as autoridades e personalidades presenteconvidadass.
Compuseram a Mesa: Ver. Adroaldo Correa, 3º Secretário da Câmara Municipal
de Porto Alegre, presidindo neste ato; Senhor Nader Alves Bujah representante da organização pela Libertação da
Palestina-OLP Democrática no Brasil; Senhor Raul Carrion, membro do Diretório Regional do Partido
Comunista do Brasil; Senhor Jairo Ferreira, Presidente do Diretório Municipal do Partido
Comunista Brasileiro; Senhor Roberto Robaina, Diretor do Sindicato dos Bancários de Porto
Alegre; e Ver. José Alvarenga, autor da proposição e, na ocasião, secretário “ad hoc”. Em continuidade,
o Senhor Presidente fez pronunciamento alusivo à solenidade, salientando que a
questão que envolve o
Golfo Pérsico merece a atenção deste Legislativo que, preocupado com o desfecho de
um eminente conflito no Golfo Pérsico, associa-se
àqueles que se alinham
para tentar instaurar a paz na região conflitada. Após, o Senhor
Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O
Ver. Omar Ferri, em nome da
Bancada do PSB, analisando as questões econômicas que tem norteado os conflitos
que vem ocorrendo no Golfo Pérsico, questionou o “imperialismo internacional” e, asseverando que
“nenhum povo tem o direito de espezinhar os direitos de outros povos”, defendeu o respeito à
soberania nacional. O Vereador José Alvarenga, como autor da proposição e em nome das Bancadas do PT, PDT, PMDB e PTB, historiando as raízes do
movimento contra o
envio de jovens à guerra, leu discurso pronunciado por Ron Kovic, mutilado de
guerra, cuja autobiografia originou o filme “Nascido em Quatro de Julho”, um dos líderes da
Colonização contra a
Intervenção dos Estados Unidos no Oriente Médio. Questionou o “imperialismo
americano”, afirmando que o ferido se caracteriza por “sufocar as liberdades dos
países no sentido de defender o seu capital, em detrimento do respeito ou defesa do Estado democrático”. Destacando que o
trabalhador brasileiro não deve se alijar dessa luta mundial, convocou a sociedade ativista para a formação de
um comitê em defesa da retirada das tropas estrangeiras do Golfo Pérsico e propôs se realize uma manifestação, nesse sentido, no dia cinco de
dezembro, quando o Presidente dos Estados Unidos da América, George Buch,
visitará este País. Em
prosseguimento o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores Nader Bujan,
representante da Organização pela Libertação da Palestina no Brasil; Raul Carion, Membro do Diretório Regional do PC do B; Jairo Ferreira, Presidente do
Diretório Municipal
do PCB e Roberto Robaia, Diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, os
quais respectivamente, posicionaram-se, em nome das entidades que representam, acerca do conflito que vem
ocorrendo no Golfo Pérsico e defenderam a retirada das tropas estrangeiras
daquela área. : Clóvis Brum, Segundo Vice-Presidente da
Câmara Municipal de Porto AlegreÀs dezoito horas e trinta e três minutos, agradecendo a presença de todos e convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de
amanhã, à hora regimental, o Senhor Presidente levantou os trabalhos da
presente Sessão. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Adroaldo Correa, nos termos do artigo 11, § 1º do Regimento Interno, e secretariados pelo Ver. José Alvarenga, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, José Alvarenga, Secretário “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.
, no exercício
da Presidência dos trabalhos; Engenheiro Fúlvio Celso Petracco, homenageado;
Dr. Tarso Genro, Vice Prefeito de Porto Alegre;
Deputado Estadual Jauri de Oliveira, Líder da Bancada do PSB na Assembléia
Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul; Ver. Omar
Ferri, Líder da Bancada do PSB, neste Legislativo Municipal e, na ocasião
Secretário “ad hoc”; e Srs. Teresinha Petracco Grandene,
irmã do Homenageado e representado os demais familiares. A seguir o
Sr. Presidente manifestou-se sobre a homenagem que este
Legislativo prestava e concedeu a palavra aos oradores que falariam em nome da
Casa. O Ver. Leão de Medeiros, em nome da Bancada do PDS, ressaltou qualidades
do homenageado, especialmente no
âmbito político, profissional e pessoal. E, relatando aspecto da vida do Sr.
Fúlvio Petracco, prestou suas homenagens ao mesmo. O Ver. Flávio Koutzii, em
nome da Bancada do PT, manifestou sua satisfação em encontrar o homenageado,
relembrando passagens de lutas empreendidas na militância política em prol das
classes populares. O Ver. Omar Ferri, em nome da Bancada do PSB, do PCB, em
nome do PC do B, registrou a presença de militantes do Partido Socialista Brasileiro
no Plenário, em solidariedade à homenagem que é prestada por esta Casa ao Sr.
Fúlvio Celso Petracco, destacando luta que há muito S. Sª tem ensinado aos seus Partidários.
Esclareceu circunstâncias que levaram S. Exª a ingressar no PSB. E, saudando o
Ver. Elói Guimarães pela iniciativa da proposição, parabenizou-se com o Sr.
Fúlvio Petracco. E o Ver. Elói Guimarães na condição de autor da
Homenagem e em nome da Bancada do PDT, dói PTB, do PL e
do PMDB, referindo princípios que presidem a outorga do Título Honorífico,
ressaltando que a presente homenagem é concedida em reconhecimento ao trabalho,
ao talento, à pessoa do Sr. Fúlvio Petracco, de quem destacou qualificações.
Relembrou episódio protagonizado pelo homenageado quando do Movimento de Legalidade, e
do Golpe de Mil Novecentos e Sessenta e Quatro, a
postura política de S. Sª em campanhas eleitorais. E augurou que o Homenageado
ainda muito contribuía na busca de uma sociedade mais justa. Em continuidade, o
Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Tarso Genro, Vice-Prefeito Municipal,
que em nome do Executivo Municipal, prestou homenagem ao Sr. Fúlvio Celso
Petracco. Ainda o Sr. Presidente procedeu a leitura do Texto do Título de
Cidadão e concedeu a palavra ao Deputado Estadual Jauri de Oliveira, que
prestou testemunho sobre a personalidade do Homenageado como dirigente
partidário. Em ato contínuo, o Sr. Presidente convidou o Ver. Elói Guimarães
para proceder a entrega do Título Honorifico de Cidadão Emérito ao Engenheiro
Fúlvio Celso Petracco, bem como aos presentes para que, em pe´, assistissem
essa formalidade. Após, concedeu a palavra ao Homenageado, que formulou
agradecimentos a todos que conviveram com S. Sª nos campos estudantis,
profissional e político. E destacou a atuação política desta Câmara Municipal,
expressando sua gratidão pela outorga do Título de Cidadão Emérito. Nada mais
havendo a tratar, o Sr. Presidente agradeceu a
presença de todos e levantou os trabalhos às dezoito
horas e cinqüenta minutos, convocando os Srs. Vereadores para a Sessão
Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Clóvis Brum,
e secretariados pelo Ver.Omar Ferri, como Secretário “ad hoc”. Do que eu Omar
Ferri, Secretário “ad hoc”, determinei
fosse lavrada a presente Ata que, lida
e aprovada será assina pelo Sr. Presidente e
pelo 1º Secretário.
O SR. PRESIDENTE (Clóvis BrumAdroaldo Corrêa): A questão do Golfo Pérsico, envolvendo os Governos
dos Presidentes George
Bush e Sadam Hussein,
demonstra, de maneira eloqüente, que
interesses econômicos sobrepõem-se a qualquer bem maior, até mesmo ao sacrifício da vida. Diante do Estado, tem-se verificado ao
longo do tempo que ela nada vale se ficar constatada a possibilidade de cumprimento de seus valiosos interesses. No
caso em destaque, os poços de petróleo.
A Câmara Municipal de Porto Alegre, atenta aos acontecimentos de seu tempo e preocupada com o desfecho de um eminente
conflito no Golfo,
associa-se àqueles
que se alinham para tentar instaurar a paz na região conflitada.
Vão falar nesta
oportunidade: o Ver.
Omar Ferri, pela Bancada do PDS; o Ver. José Alvarenga, autor da proposição, pelas Bancadas do PT, PDT,
PMDB e PTB; o Sr. Nader Alves Bujah, representante da Organização pela Libertação da Palestina - OLP Democrática no Brasil, o Dep. Estadual
Raul Pont, Secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores; o Sr. Raul Carrion, membro do Diretório Regional
do Partido Comunista do Brasil; o Sr. Jairo Ferreira, Presidente do Diretório
Municipal do Partido Comunista Brasileiro; o Sr. Juberlei Barcello,
Presidente da Central Única dos Trabalhadores – CUT Regional Metropolitana; e o Sr. Roberto Robaina, Diretor do
Sindicato dos Bancários de Porto Alegre.
Devido a compromissos assumidos anteriormente, o Sr. Nader Alves Bujah fará o primeiro pronunciamento
desta Sessão, para o que está convidado a ocupar a tribuna.
O SR. NADER ALVES BUJAH: Companheiro Presidente da Mesa; companheiros
membros da Mesa; Srs. Vereadores; representantes de partidos;
Senhores e Senhoras.
“O mundo árabe não é parte importante da política externa
dos Estados Unidos da América, mas sim, parte importante da política interna dos Estados Unidos
da América”. Assim falou um ex-Senador.
Desde o início deste século o imperialismo mundial sempre teve uma visão, em
relação ao mundo árabe, muito específica, muito diferente em relação ou, se compararmos, a outras partes deste planeta. O mundo árabe,
que têm mais de 60% da reserva mundial de petróleo, para o imperialismo americano, é um mercado que só vai servir para comercializar os produtos da indústria ocidental. Partindo dessa
idéia, nós podemos entender, porque ali existem mais de 300 mil soldados americanos, 6 porta-aviões, mais os
exércitos, os soldados da Alemanha, Bélgica, Itália, Espanha, Áustria e outros países. Porque o
Kuwait, no dia 02
de agosto de 1990, deixou
de servir aos interesses do imperialismo americano: no dia 02 de agosto de 1990 o Iraque ocupou o Kuwait. Sai de cena uma família que vem
governando este País há
muitos anos, uma família que antes de 1914 nunca existiu, mas esta família foi
trazida pela
Grã-Bretanha. Antes de 1914 o Kuwait era parte integrante do Iraque.
O mundo árabe abre hoje uma agressão por parte do Tratado do
Atlântico Norte.
Portanto, podemos dizer que o imperialismo
americano não permite o surgimento de qualquer potência árabe, seja no sentido militar,
econômico ou qualquer outro sentido. Quer dizer que isso envolve mais que a simples
questão da invasão do Kuwait. Isto pode ser notado no último discurso do
Presidente Bush na ONU,
em setembro último. E
também no discurso do Sr. Joanspeter, Chanceler Americano, quando definiram a política
americana em relação ao Mundo Árabe em três pontos:
1º - a retirada das tropas iraquianas do Kuwait;
2º - destruir a força militar no Iraque;
3º - volta da família Sabat.
Isto significa que mesmo se as tropas iraquianas se retirarem do
Kuwait, os Estados Unida da América não permite que nenhum país árabe seja militartemente forte.
Isto porque existe outro país no mundo árabe que foi implantado em
1948, Israel. O Estado de Israel deve ser sempre o melhor em todos os termos. Este estado deve ser superior em
termos militares, econômicos,
sociais e nucleares. Então
pela primeira vez na
história política do conflito Árabe-Israelense existe um País Árabe chamado
Iraque, que tem a
coragem de dizer não a Israel. Isto não agrada a Israel e nem aos Estados
Unidos da América.
Então por isso podemos entender por que o Sr. Bush e toda a administração Americana insiste em destruir a força
militar no Iraque. Quer
dizer, se isso ocorrer com outro país árabe essa atuação será a mesma. Como efeito dessa
intervenção americana no mundo árabe, estamos diante do mundo árabe dividido. De um lado Egito,
Arábia Saudita,
Kuwait, Síria, Líbano; de outro lado, Iraque, OLP, Jordânia, Sudão, Líbia,
Argélia, junto com os povos árabes. Quer dizer, o que está ocorrendo na prática é um acoplamento
político, além de um
acoplamento econômico e militar. Então, nós da OLP pensamos que, em relação a
esta crise podemos dizer tranqüilamente, estamos contra qualquer tipo de acoplamento, nós
não permitimos violar a soberania de outros Estados, não aceitamos a idéia de tomar o território dos outros pelo uso da força, mas também
pensamos que esta é uma crise que envolve o mundo árabe, que os árabes devem
resolver de acordo com os mecanismos existentes, tipo a liga árabe.
Em segundo lugar,
existe na Arábia uma riqueza que pertence aos povos árabes, somente os árabes podem utilizar-se desse petróleo. E nós
insistimos que essa riqueza seja usada para o bem social e econômico dos povos árabes.
Em terceiro lugar, nós estamos exigindo a retirada imediata das tropas americanas do Golfo Pérsico,
porque isso agride não somente a soberania da Arábia Saudita, mas agride os
sentimentos morais, culturais, políticos dos povos árabes. E também a ONU, que é um
organismo internacional, que tem por função regular as relações entre os estados, deve agir rapidamente de forma eficaz para
resolver esta crise. Pensamos que para solucioná-la as resoluções que saíram, que foram adotadas para
resolver esta crise devem ser aplicadas. Da mesma forma pensamos que a questão Palestina e mais especificamente a questão
dos territórios palestinos ocupados também sejam resolvidos. Por isso também existe a
resolução da ONU em relação à Palestina, especialmente a Resolução nº 605, que exige a retirada das tropas israelense da
Palestina ocupada e exige que o povo palestino volte ao seu território e exerça o direito de
retorno. Perguntamos, então, aos Estados Unidos da América, ao imperialismo mundial: por
que vocês querem aplicar as resoluções
e as sanções econômico-militares contra o Iraque e não querem aplicar as mesmas
em relação a Israel?
Por que ninguém se
preocupa em aplicar as sanções econômico-militares contra Israel? No último massacre em Jerusalém demoram uma semana
para chegar a uma resolução. Até adotaram um texto leve, que condena Israel, mas de forma muito leve, eles
condenaram apenas a ação de alguns elementos da polícia israelense e não a política do próprio governo, mas em
relação ao Iraque para adotar uma resolução levam 24 horas. Inclusive, hoje, os Estados Unidos da América
está encaminhando uma resolução para adquirir um pretexto legal, internacional,
para agredir o Iraque, para utilizar a força militar.
Então, pensamos, nós, palestinos, que vai levar algumas horas.
Então, em relação ao mundo árabe, em relação à crise do Golfo, em relação à questão palestina, o nosso
pensamento está voltado para uma solução global para todos os conflitos demais
existentes ali. Nós palestinos temos o
nosso território ocupado, nós estamos sofrendo há mais de 43 anos, estamos sofrendo no sentido
econômico, político, educacional, religioso, psicológico. Até este exato
momento temos dois mil mortos, mais de 70 a 95 mil feridos, mais de 150 mil presos políticos e ninguém se preocupou, especialmente
os Estados Unidos da América, em punir Israel. A OLP, desde que surgiu esta crise, sempre buscou entendimento e o diálogo. O Sr. Yasser
Arafat, líder da OLP, visitou o Iraque, juntamente com Sadam Hussein e Kadaf, da Líbia, e formularam um plano para chegar à solução adequada e pacífica para a crise. Os senhores na Casa Branca não
aceitaram, e o
Presidente Francês, Mitterrand, e o Rei da Jordânia, estão tentando encontrar uma saída política para
a crise, mas lamento
informar que o ambiente está mais para a guerra do que para a paz. Os senhores na Casa Branca não permitem que um país árabe seja forte, somente Israel, essa é a regra, e os árabes têm sido usados para a indústria ocidental, os árabes devem
servir o senhor americano na Casa Branca. É esta
a visão imperialista desde o início do século, e isso não muda, a não ser que o
mundo árabe se una
para proteger os seus interesses econômicos e políticos, e que a riqueza seja
usada para que o povo árabe adquira a independência econômica e
política real. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Omar Ferri.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Presidente desta Sessão que homenageia os povos
árabes, srs. componentes da Mesa, Srs.
Vereadores presentes, minhas senhoras, meus senhores. Inicio pedindo desculpas porque, logo após o meu
discurso, devo me retirar, pois devo proferir uma palestra, em uma Escola, sobre os direitos humanos. Quando Israel invadiu a
Palestina, em 1976, eu encontrei um judeu, na Rua da Praia, vejam bem, eu não encontrei um
brasileiro, encontrei um judeu. Essa é a primeira forma de raciocínio, bem que eu gostaria de
dizer que encontrei na Rua da Praia um brasileiro, mas encontrei um judeu. E disse ao judeu que, enquanto os territórios não
fossem devolvidos aos
povos árabes, o Oriente Médio não encontraria a paz. Desde 1986 já decorreram até o ano de 1990 quatorze anos. E a situação somente
piorou e agora
estamos à beira de
uma conflagração com todas as características de uma III Guerra Mundial.
Não se pode esquecer que, em 1917, por uma declaração do Ministro Balfur, das Relações Exteriores da
Grã-Bretanha, o
imperialismo divide a Palestina e dava três quartas partes para que lá fosse estabelecida a República Israelense. Uma quarta parte
para que lá fosse consolidado
um Estado árabe-palestino.
Quer dizer, entenda-se o outro lado da história. Eles expulsaram os palestinos de suas terras.
E não contentes com isto ocuparam, agora, as faixas de Gaza e da Cisjordânia. Mas não é judeu que ocupa, é o sionismo internacional, que é testa de ferro do
capitalismo internacional, que por sua vez é o reverso da medalha do sionismo
internacional, que é
racista. E há questão
de três meses alunos
de um colégio entrevistaram a mim e ao ex-Governador Simon. Esteve na minha casa um aluno brasileiro chamado Lahude. Ele não disse que era
árabe. E pouco interessava a ele, porque era um jovem de 8 ou 10
anos, a situação dos povos árabes, mesmo porque ele nada entendia de conflitos de caráter internacional. Havia uma
série de perguntas que nós deveríamos responder. Uma das perguntas era a seguinte, feita por um
brasileiro, repito, chamado Lahude. Tiago Lahude. O que o senhor acha da invasão do Kuwait pelas tropas do Rei
Hussein? Resposta minha: e o que os senhores acham da invasão de Granada e Panamá pelas
tropas americanas? Pergunto a esta seleta platéia se há ainda necessidade de
explicações
posteriores? Quem invadiu
o Vietnã, quem
invadir a Coréia, o
Laos, quem matou o símbolo da resistência latino-americana nas selvas bolivianas? Foi o imperialismo americano, foram os boinas-verdes
americanos, foram as
botas assassinas do imperialismo internacional. Quem esteve aqui nas costas do Brasil em 1964 comandando
uma operação denominada “brother san” que garantia ao golpismo brasileiro dólares,
combustíveis,
armamentos e soldados?
Foram os Estados Unidos da América do Norte. Quando as forças progressistas latino-americanas estão a ponto de tomar o poder, como aconteceu em Santo Domingos com o general Juan Bosch, os boinas-verdes invadem qualquer país impiedosamente. Quando as forças progressistas assumem o poder, como é o histórico exemplo do Sr.
Salvador Allende no
Chile, as forças do mal, da opressão e do imperialismo pagam inclusive
greves gerais e transporte para paralisar uma nação e deflagrar, através dos testas-de-ferro do imperialismo internacional junto aos povos da América Latina, que são os nossos exércitos representados por
seus reacionários e gorilas coronéis e generais. Então é evidente que a nossa
solidariedade ao povo Árabe, a nossa solidariedade ao povo Palestino e a nossa solidariedade ao povo
Iraquiano, que passou a ser conhecido e a se denominar como kwaitiano do início do século para cá. Se existe o princípio de
autodeterminação e de soberania, como justificar que o imperialismo retalhe o mundo
em tantas facetas como
melhor lhe aprouver, como admitir que isto possa ocorrer? Felizmente eu diria para os
senhores, possivelmente não há luz no fim do túnel fora dos Estados Unidos,
mas haverá luz no fim do túnel a partir dos Estados Unidos. A história é sábia,
a história econômica que faz a história é mais sábia
ainda. Em 1930,
quando ocorreu o craque
da bolsa de valores de Nova Iorque, 1% da população americana era dona de 36%
da riqueza nacional.
Agora, seguindo lições do Professor Rave Brata, naquele livro “1990 a Grande
Depressão”, ele
assinala que em 1990 1% da população dos Estados Unidos é dona de 34% da riqueza nacional. Isso significa que em breve haverá uma crise geral do imperialismo internacional, e aí então será
a vez da emancipação e da liberação geral dos povos do mundo. E neste momento nós temos a
certeza de que haverá vozes a se levantarem e a se
clamarem no deserto e
os povos oprimidos e os povos árabes, oprimidos pelo tacão do imperialismo internacional, haverão de se libertar, e a partir dos escombros e das ruínas que o
imperialismo lá está
gerando e haverá de construir nações cheias de fé, cheias de amor, cheias de
progresso, cheias de liberdade, cheias de democracia e cheias da vontade de dar igualdade e
dizer aos povos do mundo que, se nós somos todos irmãos, nenhum povo tem o direito de espezinhar o direito
do outro povo. Muito
obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador é o Ver. José Alvarenga, autor da proposição, que falará pelas Bancadas do PT, PDT, PMDB e
PTB.
O SR. JOSÉ ALVARENGA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, demais componentes
da Mesa. Recentemente nós tivemos a oportunidade de assistir, nas telas dos cinemas, aqui em Porto Alegre, a um filme cujo nome era
“Nascido em 4 de Julho”.
Esse filme contava a história de um jovem americano de nome Ron Kovic, que acreditando na justeza da guerra que o imperialismo americano
desenvolvia no
sudeste da Ásia, no Vietnã, se alista no Exército Americano e vai lutar, e é ferido e volta mutilado ao
seu País. Esse
companheiro se tornou,
depois de sua volta
aos Estados Unidos,
um ativista contra a guerra do Vietnã e foi uma das lideranças mais importantes da juventude americana na luta
de resistência contra as tropas, contra o envio e contra a morte da juventude
americana nas florestas, na Ásia. Houve um ato, agora em setembro, na Universidade de Beckerley, nos Estados Unidos, e esse mesmo companheiro, Ron Kovic, proferiu um discurso nesse
ato. Vou proferir um discurso nesse ato. Eu vou passar a ler uma parte do discurso do Ron Kovic: (Lê.)
“Eu vim aqui
dizer que a nossa luta está só começando. Se o Presidente
Bush for à guerra no Oriente Médio, nós voltaremos às ruas para acabar com
isso. Não vamos aceitar que o que aconteceu no Vietnã comece de novo.(...)
Não
deixaremos que Washington lance uma nova guerra, para defender as grandes
companhias, os lucros delas, o petróleo.
Presidente
Bush, não subestime a força do povo americano. Nós sabemos muito bem que o seu
governo representa as forças sedentas de lucros, que só enxergam os seus
próprios interesses.
Eu fui para
o Vietnã, pela primeira vez, em 1965. Eu sou de uma cidadezinha de Long
Island. Estava ansioso para servir ao meu país, e por isso me alistei nos marines.
Os filmes de
John Wayne faziam parte do universo da minha infância, igual aos filmes de
Rambo que mandaram dezenas de milhares de jovens, rapazes e garotas, para o
deserto da Arábia.
Eu voltei do
Vietnã em janeiro de 1968, depois de ter sido ferido em zona desmilitarizada.
Uma bala me pegou o ombro direito, atravessou o pulmão e provocou a paralisia
das pernas. Isso foi no fim da minha segunda campanha. Eu tinha voltado ao
Vietnã porque ainda acreditava que estavam dizendo a verdade. Fui teimoso, e
isso me levou a ficar paralítico. Me levou também para um hospital de veteranos
infestado de ratos, no Bronx.
Só comecei a
abrir os olhos, a entender que tinham mentido para mim, como mentiram a toda
uma geração de jovens americanos, quando uns provocadores, policiais que se
faziam passar por veteranos contra a guerra, me derrubaram da cadeira de rodas
aos pontapés, me chamando de comunista e traidor.
Foi aí que
entendi que aqueles que eu respeitava e considerava meus líderes, é que eram os
verdadeiros traidores. Comecei a compreender que eles nos tinham roubado o meu
país, o lugar onde nascemos e tentamos amar.
Eles
espalharam o sofrimento e a miséria, a desolação e os piores males pelo mundo
inteiro, em nome do povo americano. É uma infâmia.
Neste ato,
estamos lançando um movimento a serviço de cada ser humano de cada país. Temos
a obrigação de lançar esse movimento.
Senhor
presidente, nós só estamos começando.”
Este foi o
discurso de Ron Kovik, quando foi lançada em setembro
a coalisão contra a intervenção dos Estados Unidos no Oriente Médio. É um
movimento que exige um retorno imediato das tropas americanas que foram
enviadas ao Golfo Pérsico.
Os Estados
Unidos estão há quase cem dias com suas tropas alojadas no Golfo. O objetivo
não é de forma alguma defender a democracia, ou a autodeterminação dos povos.
Aliás, como já disseram os companheiros da OLP e o Ver. Omar Ferri, do PSB,
ninguém como o imperialismo americano soube sufocar as liberdades democráticas,
soube invadir os países dos mais diversos continentes para defender os seus
lucros.
Nós tivemos
nas últimas semanas mais de 50 mortos nos territórios palestinos
ocupados pelo Exército Israelita. Há pouco tivemos um país invadido
no Panamá, pelo imperialismo. Isto descredencia o
imperialismo americano como defensor da autodeterminação dos povos e como
defensor dos direitos democráticos.
Na verdade o
interesse do imperialismo quando invade, estaciona suas tropas na Arábia
Saudita e ameaça levar uma Guerra contra o povo iraquiano, as
massas árabes nesta parte do Planeta, é pura e simplesmente manter e ampliar
seu controle sobre o Oriente Médio, controle político e econômico. Seu controle
político, porque ele não suporta que haja estados, países
independentes nesta parte do mundo, como de resto em todo o Planeta. E de outro
lado, porque ele precisa manter um controle ferrenho sobre os poços de petróleo
desta região, porque isto diz respeito à metade do combustível fóssil, do
petróleo que eles consomem.
Esta região,
o Golfo Pérsico, o Oriente Médio, é uma região que tem uma larga e antiga
tradição de luta antiimperialista. Nós tivemos fatos muito importantes na arena
mundial que se desenvolveram nesta região. Tivemos a luta dos povos árabes pela
nacionalização do Canal de Suez, que era
controlado pelo imperialismo. Tivemos a luta pela independência do povo
argelino contra o imperialismo francês. E
temos agora a heróica luta da OLP contra o Estado de Israel, que sufoca
os povos palestinos e árabes dessa região. A
invasão do Kuwait por parte do Iraque provocou um conflito entre o Iraque e o
imperialismo. Porque o Kuait era um País, estado artificialmente criado, como
disse o Ver. Omar Ferri, era parte do Iraque, houve a
criação do estado artificial, como há outros nessa região,
para poder dividir as massas árabes, para que o imperialismo pudesse controlar
com mais facilidade as fontes produtoras do petróleo, enfraquecer a luta do
nacionalismo árabe. A invasão do Kuait por Sadam Hussein de
forma alguma pode nos levar, devido a esse conflito com o imperialismo, pode
nos levar a dar apoio político a Sadam Hussein, ou
a chamar as massas árabes a seguir Sadam Hussein e
dizer que ele vai ser conseqüente na luta contra o imperialismo. Ao contrário,
esse ditador sufocou uma nacionalidade oprimida do seu próprio País, sufocou os
povos com gases venenosos. E recentemente, para deter a extensão da Revolução
Muçulmana para o resto do Oriente Médio, inclusive para a União Soviética.
Mas essa
invasão do Kuwait despertou uma imensa solidariedade nas massas árabes.
Essa invasão provocou um reforço muito grande da luta dos palestinos,
um esforço intifada que as massas palestinas
levam contra o Estado imperialista. E provocou a solidariedade de milhões e
milhões de trabalhadores na Argélia, Jordânia, na Líbia, mesmo no Egito, cujo
exército também está estacionado e a serviço dos americanos na Arábia Saudita.
Levou também a mobilizações bastante importantes, como disse
Ron Kovic, que estão nascendo, podem-se
desenvolver, e certamente, se o
imperialismo levar a cabo esta guerra, vão
adquirir proporções gigantescas como adquiriram as lutas da juventude americana
contra a guerra do Vietnã. Nós tivemos recentemente uma marcha de 15 mil jovens
em Nova Iorque, exigindo a retirada das tropas americanas na
Arábia Saudita, tivemos manifestações como esta em Tóquio, Paris, Madrid, temos
uma nova marcha marcada para Washington para 15 de novembro e este
movimento vai crescer, vai assumir proporções gigantescas e junto com a
resistência das massas árabes, dos povos palestinos, significa um obstáculo
muito grande para que o imperialismo possa superar e levar a cabo as suas
intenções.
Esta Sessão
Solene da Câmara Municipal é um passo inicial que damos para que esta luta
também seja desenvolvida pelos trabalhadores brasileiros. Gostaríamos de convidar
a todos os companheiros que estão assistindo a esta Sessão, em particular os
companheiros do PCB, do PC do B, da OLB, da CUT, do PT, das demais organizações
democráticas para construirmos aqui nossa Cidade e em todas as cidades
importantes do país, comitês unitários pela imediata retirada das
tropas imperialistas do Golfo Pérsico. Nós vamos ter uma oportunidade bastante
importante e rara de poder levar esta idéia, a idéia de que os trabalhadores
brasileiros devem se empenhar na luta contra o imperialismo às ruas da nossa
Cidade. Dia 05 de dezembro, o Presidente Collor de Mello se prepara
para receber o Presidente Americano George Bush, que deve vir ao
Brasil, e nós convidamos todas as organizações mencionadas
a organizar grandes manifestações que exijam a imediata retirada das tropas
americanas do Golfo Pérsico. É um convite a esta manifestação, à
formação de um comitê unitário que reúna todas as nossas forças para podermos
nos somar à luta contra o imperialismo americano. Abaixo o
imperialismo americano, fora as tropas imperialistas do Golfo. Palestina
livre. Viva a luta dos povos árabes. Muito obrigado.
O SR.
PRESIDENTE: Com
a palavra o Sr. Raul Carrion, membro do Diretório Regional do PC do B.
O SR. RAUL
CARRION: Sr.
Adroaldo Corrêa, que preside esta Sessão, companheiros da Mesa, companheiros
Vereadores, todos os presentes. Em primeiro lugar, a nossa satisfação em
estarmos presentes, o PC do B, nesta importante Sessão Solene, de iniciativa do
Ver. José Alvarenga. Gostaríamos de iniciar a nossa colocação lendo uma nota
oficial do Comitê Central do PC do B, divulgada no dia 15 de agosto de 1990,
intitulada: “Os Estados Unidos querem a guerra”. (Lê.)
“São de
muita gravidade os acontecimentos do Oriente Médio. De um momento para outro,
estabeleceu-se um clima de guerra na região do Golfo Pérsico, que ameaça
transformar-se num conflito bélico de grandes proporções. Estão envolvidos
países árabes e potências imperialistas, destacadamente os Estados Unidos.
Armas modernas de efeitos devastadores estão prontas
a serem acionadas. Centenas de milhares de soldados equipados para o combate
aprestam-se para a luta sangrenta. Um sério perigo ronda a vida dos povos, que
poderão ser arrastados no turbilhão de uma guerra injusta, na qual os
imperialistas norte-americanos são os principais interessados.
O Partido
Comunista do Brasil, PC do B, denuncia as maquinações guerreiras e chama o povo
brasileiro à vigilância contra tentativas de envolvimento do nosso país nessa
violenta disputa.
Incorreta a
posição do Iraque
Ao nosso
entender é incorreta a ação do Iraque, invadindo militarmente um país vizinho e
declarando, em seguida, sua anexação ao território iraquiano. Sem dúvida, o
Kuwait servia às potências imperialistas, em particular à Inglarerra e aos
Estados Unidos. Prejudicava o mundo árabe e fazia o jogo das potências
ocidentais na questão do petróleo. Essas atitudes podiam ser combinadas. Não,
porém, por meios militares.
Os Estados
Unidos querem a guerra.
Mas a
questão essencial no conflito criado é a atitude dos Estados Unidos,
mobilizando tropas e a esquadra naval com o propósito de desencadear a guerra
total contra o Iraque. Enviaram milhares de soldados à Arábia Saudita.
Convocaram reservistas. Decretaram, por conta própria, o bloqueio
marítimo e terrestre do Iraque. Assim procedendo, contrariaram a decisão do
Conselho de Segurança da ONU que determinou o embargo e não o bloqueio
com relação àquele país. O bloqueio, por si mesmo, é um ato de guerra. Os
Estados Unidos têm pressa, querem o conflito armado imediato. Seu objetivo é
claro – ocupar e dominar as regiões árabes onde se encontram as maiores
reservas de petróleo do mundo. Pretendem utilizá-las em proveito próprio e como
instrumentos de pressão política e econômica contra os seus concorrentes no
plano mundial. As declarações de Bush sobre a defesa da soberania
do Kuwait e da Arábia Saudita são hipócritas, simples pretexto para justificar
a agressão e procurar envolver outros países na aventura que promove. Os
Estados Unidos são uzeiros e vezeiros em atacar a independência e a soberania
das nações. Invadiram Granada. Agrediram o Panamá. Recentemente, desembarcaram
tropas na Libéria. É um país agressivo, inimigo da liberdade, do progresso, da
independência de todas as nações.
Collor ao
lado dos belicistas
O povo brasileiro
precisa estar em guarda quanto aos acontecimentos do Golfo Pérsico. O governo
Collor vem tomando atitudes de aliado dos Estados Unidos na política de
pirataria e guerra contra os povos árabes. Procura justificar suas atitudes
alegando decisões da ONU. Na prática o que faz é abandonar a linha tradicional
do Itamarati de não envolvimento em conflitos dessa natureza. São injustas e
condenáveis as medidas adotadas contra os navios iraquianos em portos
brasileiros e as declarações do ministro do Exterior favoráveis ao bloqueio
do Iraque decretado pelos Estados Unidos. Os interesses do Brasil são
contrários às pretensões imperialistas dos Estados Unidos no Oriente Médio.
Demagogia
desmascarada
O clima de guerra existe no Oriente Médio vem
demonstrando uma vez mais o quanto são falsas e demagógicas as afirmações de
Gorbachev e Bush de que a época das guerras terminara, e se estaria construindo
o mundo de paz. Isto justificaria, segundo eles, o abandono da violência, da
luta de classes, da revolução libertadora. A guerra está aí novamente. É fruto
do capitalismo que a ela recorre para esmagar os concorrentes, roubar as
riquezas de outros países, escravizar os trabalhadores e os povos. Por isso
também a luta de classes e os anseios de revolução estão presentes e mais vivos
do que nunca na consciência dos que almejam a emancipação nacional e social. Em
que pesem os Bush, os Gorbachev.
Comissão Executiva do PC do B, S. Paulo -
15/08/1990.”
Completando,
companheiros, essas colocações por si só suficientes da Direção
Nacional do nosso Partido. Poucos dias após as medidas de guerra dos Estados
Unidos, acompanhados principalmente pela Inglaterra, e não por
acaso, porque todas as reservas petrolíferas do Kuwait
são exploradas por um único consórcio anglo-americano, nós gostaríamos de fazer
umas pequenas considerações. Além do nosso repúdio à presença das tropas
americanas, essa agressão de caráter imperialista, é importante que se tirem desse fato
algumas conclusões no momento em que a burguesia internacional desencadeia uma
campanha ideológica, buscando desarmar os povos de uma visão
anti-imperialista, de uma visão revolucionária. Para muitos hoje
ainda ontem vimos uma declaração de um ex-comunista – o moderno não é mais a
existência da luta de classes, não existe mais imperialismo, o socialismo não
existe mais, o moderno é o liberalismo que surgiu no século XV para justificar a ascensão da
burguesia na sua luta contra o feudalismo. O moderno, hoje, é a democracia
liberal burguesa, a mesma que dirige os Estados Unidos, a mesma que, na
verdade, é uma plutocracia, democracia do dinheiro, como se a democracia fosse
uma coisa histórica, sem conteúdo de classe. Hoje quer-se redesenhar o
socialismo, a partir do liberalismo. Algumas cabeças, até no campo
pretensamente da esquerda. Esse fato, esta agressão imperialista, onde se vê
que enquanto existir o imperialismo, capitalismo existirão as guerras, a
exploração dos povos, o domínio dos povos, talvez seja um momento interessante
de reflexão para estes que se deixaram levar pela pressão da ideologia
burguesa, imperialista, num momento de dificuldade da luta socialista. Aqui no
Brasil também enfrentamos uma ofensiva enorme do imperialismo. A Petrobrás,
patrimônio da luta do nosso povo está sendo ameaçada, não só por interesse externo,
o próprio Presidente da Petrobrás colocado pelo Governo Collor afirma que o
monopólio do petróleo deve acabar neste País. O Sr.
Collor de Mello sai na imprensa dizendo que está certo o Presidente da
Petrobrás. Estatais estratégicas, fruto da luta do nosso povo, estão sendo
entregues abertamente e se vê ainda pouca reação do povo, porque muitas das
forças ditas de esquerda se encontram numa posição de defensiva diante dessa
pressão da ideologia burguesa em todo o mundo. Então esta Sessão e esses
acontecimentos do Iraque, do Kuwait não nos devem pensar só que é um problema
deles, o domínio dos povos pelo imperialismo americano, pelo imperialismo
alemão, japonês é um problema também do nosso povo. Precisamos transformar a
solidariedade aos povos árabes, aos povos palestinos também num motivo de
mobilização do nosso povo contra esta grande ofensiva do imperialismo no nosso
País. Por sinal, referindo-me aos povos palestinos é impressionante a
hipocrisia daqueles que desde 1967, tem uma resolução da ONU para que Israel
desocupe os territórios ocupados da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, e até hoje, 23 anos
passados, Israel não se retirou, e eu não vi os Estados
Unidos e nenhum país imperialista deslocar tropas para lá para exigir a
retirada de Israel desses territórios. Por que tanto interesse hoje de
reestabelecer o Kuwait, que é realmente uma criação do imperialismo para
dominar o petróleo lá? São os interesses econômicos do imperialismo,
inclusive hoje em conflito com o imperialismo japonês e alemão, que são Países
extremamente dependentes do petróleo. Não se enganem, a luta não é só contra o
povo árabe, é também uma disputa interimperialista que se aguça, porque ao
contrário do que pensam esses que hoje abandonaram o marxismo, ainda ontem o
rapaz falava nisso, o marxismo estava superado, o socialismo também estava
superado, esses esquecem o que disse Lênin numa obra extremamente profunda, as
contradições interimperialistas se aguçam e hoje mesmo o conflito do Kuwait
reflete esse aguçamento entre as contradições do imperialismo norte-americano,
alemão e japonês. Então, companheiros, concluímos, deixando
aqui a posição do PC do B pela imediata retirada das tropas norte-americanas,
inglesas, e outras, até argentinas já se meteram lá para esquecer seus
problemas internos, e não durmamos de touca, daqui a pouco o
Collor vai querer mandar tropas para lá, porque o plano dele já está fazendo
água por todo o lado, e, quem sabe, uma aventura guerreira possa tentar salvar
a situação. Então, a nossa exigência pela retirada das tropas, e o nosso
chamamento pela unidade dos povos oprimidos na luta contra o imperialismo.
Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Jairo Ferreira, Presidente do
Diretório Municipal do PCB.
O SR. JAIRO
FERREIRA: Companheiros Vereadores, do PT, da OLP, do PC do B,
ativistas no campo revolucionário e democrático. Nós nos encontramos numa
situação de crise, não só no Oriente Médio, mas ela extrapola a situação
específica que se discute e se aborda neste ato. Uma crise onde, se de um lado,
o velho imperialismo e uma velha concepção socialista lutam para permanecer
vivas, de outro lado, uma nova concepção de socialismo e o velho capitalismo
ainda não encontraram a sua nova forma. Isso é o pressuposto de qualquer abordagem
da situação em que nos encontramos, porque nada nos faria ficar mais
tranqüilos, se vigorasse, hoje, por exemplo, na União Soviética, uma concepção
militarista, de solução militar e armada para a questão do Oriente Médio. Pelo
contrário, uma concepção desse tipo, tipo a que os comunistas tiveram no
pós-guerra, concepção desenvolvida pelo camarada Joseph Stálin, de forma alguma
ajudaria a resolver os conflitos mundiais atuais. Pelo contrário, a concepção
armamentista alimentou o armamentismo americano; a concepção belicista
alimentou a concepção belicista norte-americana. Ela não travou a luta das
idéias; ela não travou a luta das concepções; ela não travou a luta das ideologias; ela
procurou, na esfera das armas, a paridade, que levou inclusive o socialismo à
bancarrota, hoje, no campo mundial. E o socialismo enfraquecido é um dos
pressupostos inclusive da agressividade imperialista; o socialismo em crise é,
inclusive, um dos pressupostos fundamentais da agressividade neoliberal. O
socialismo não estaria mais fraco, pelo contrário, estaria muito mais forte se
tivesse, no pós-guerra, adotado a luta da concepção da disputa ideológica a
nível mundial, por concepções de paz mundial, se tivesse, muito antes de buscar
a paridade, organizado consciências em torno da paz. O que se derrotam hoje não
são apenas algumas concepções que capitulam frente às concepções
social-democratas; o que se derrotam hoje também são velhas concepções de
socialismo, que já mostraram que não deveriam jamais ter
hegemonizado o movimento comunista internacional. A crise de um modelo, o
modelo pós 30, modelo sustentado no fordismo que, como a gente conhece, passa
muito pela utilização do petróleo como matéria-prima básica para sua realização, é uma crise
que vem de 60; é uma crise que se espraiou em 70; é uma crise que chega, no
final dos anos 80, início da década de 90, com indício de apogeu de crise; é
uma crise em que o imperialismo procura, através do controle estratégico dessa
matéria-prima, manter a agonia de um modo de produção. Assim como o espoucar
das Primeira e Segunda Guerra Mundiais se deu devido à dificuldade de
reciclagem do imperialismo, à dificuldade de reciclagem do capitalismo, porque
imperialismo e capitalismo não conhecem outra forma de se reciclar a não ser
através das crises, agora também o que se coloca na conjuntura é essa
possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Mas não só pelos elementos do
imperialismo, não só porque o imperialismo busca o controle estratégico sobre
as matérias-primas das quais necessita para manter um modelo em agonia, não só
por isso, mas, porque, de outro lado, Sadam
Houssein com concepções feudais, concepções atrasadas, sob um manto de
nacionalismo, concepções arcaicas, autoritárias, antidemocráticas, com as quais
não podemos compactuar. São duas faces de uma mesma moeda, não fossem os senhores feudais do
Japão não haveria o Imperialismo Japonês agressivo, não houvesse os senhores feudais na
Itália, não estaria também a Itália agregada ao movimento
fascista. Na Alemanha, se não fosse o atraso dos senhores do campo, também não
haveria o fascismo alemão. As coisas estão conectadas, temos de um lado o
Imperialismo Americano, e de outro lado temos concepções arcaicas, atrasadas,
que de forma alguma servem à questão árabe, de forma alguma servem à questão
nacional, inclusive do povo palestino.
Acredito que o povo árabe necessita de uma nova
liderança, uma liderança que lhe dê uma nova dimensão progressista,
revolucionária, humanista. Aí sim, não com Sadam Houssein,
mas esta nova liderança poderá conquistar mais as consciências, porque este
caminho está colocado no mundo, porque a guerra, a destruição total, como falou
Einstein depois da Terceira não sabemos como será, a Quarta será de
arco e flecha.
Então, esta perspectiva da guerra de forma alguma
interessa às forças socialistas, de forma alguma interessa ao
povo palestino, ao povo judaico, interessa ao Imperialismo, ao Capitalismo. Não
interessa à nossa perspectiva revolucionária.
Sem dúvida, sobre a
questão da Guerra e a Paz não há o que vacilar, nesta vacilação se criou a
cisão do movimento comunista, e nós somos comunistas. Se criou a 2ª e a 3ª
Internacional nesta discussão. E a questão da guerra está colocada, novamente,
para as forças revolucionárias, não apenas como uma questão internacional,
mas uma questão nacional, uma questão de ação prática, como a
questão de relação com a sociedade, uma relação com os trabalhadores, uma
discussão com os trabalhadores, de discussão com os trabalhadores sobre esta
perspectiva desta questão concreta.
E sem dúvidas, comunistas, revolucionários, sejam
eles do PCB ou não, não temos a pretensão de ser o único lugar em que haja
comunistas, social-democratas ou stalinistas. Talvez haja poucos
stalinistas aqui. Talvez estejam colocados em outros lugares, talvez haja
poucos social-democratas aqui. Mas isto é outra discussão. Mas os
comunistas, os revolucionários não podem vacilar nesta questão, não podem
vacilar nesta mobilização, numa perspectiva de solução política, porque esse
imperialismo que é a solução militar, nós queremos a solução política, nós
queremos a solução política para a questão Palestina, que atenta à
reivindicação do povo palestino; nós queremos uma solução política também para
a soberania das ações árabes sobre suas matérias-primas; nós
queremos uma solução política para o progresso econômico político e social de
todas as nações árabes, onde haja melhoria, onde haja o direito à felicidade,
liberdade. Nós podemos discutir isso com tranqüilidade, não é uma questão
ética, não é. O povo judeu continua a dar muitas contribuições à humanidade.
Marx, Hartz, Einstein, Freud, Espinosa, nos pertencem, pertencem à OLP,
pertencem a todos os revolucionários. É uma questão de luta anti-imperialista,
é uma questão de luta por uma concepção avançada de sociedade. Então essa
disputa nós temos que levá-la em conseqüência, mas levá-la com conseqüência
inclusive de conteúdo, porque o que a conjuntura no mundo coloca para os
revolucionários é exatamente isso: ter uma nova concepção de solução dos
conflitos, onde a questão da paz não seja uma questão de discurso, mas onde
subjaz, onde sobrevive, onde se mantém uma concepção
militarista de luta de classe, onde não se compreendeu ainda que entre a luta
armada e a democracia há um vasto campo de discussão para as forças revolucionárias,
que é o campo da consciência. E nós temos que investigar esse campo,
desenvolver esse campo, articular e organizar esse campo, não em nome de uma
luta imperialista correta, revolucionária, verdadeira e necessária,
continuarmos defendendo conteúdos atrasados, arcaicos que impedem inclusive de
derrotar o neoliberalismo, isso pode jogar a esquerda no isolamento. Stalinismo
já era. Nós temos que criar uma nova concepção revolucionária, mas
revolucionária, comunista, este é o momento em que essas concepções, na
prática, vão ser agilizadas, vão ser encaminhadas. E nós, aqui, no Brasil,
temos até para dimensão da esquerda uma responsabilidade muito grande. Eu acho
que a nossa luta é importante, os revolucionários, nós temos convicção, saberão
encaminhar a solidariedade internacional, saberão encaminhar a luta
anti-imperialista pela paz e por uma solução política e não militar no Oriente
Médio. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não revisto
pelo orador.)
O
SR. PRESIDENTE: Com
a palavra o Sr. Roberto Robaina, Diretor do Sindicato dos Bancários de Porto
Alegre.
O SR. ROBERTO ROBAINA: Srs. Vereadores, companheiros e companheiras
presentes a esta Sessão. Acho que uma coisa muito importante que deve nortear a
discussão sobre a crise no Golfo Pérsico é que os Estados Unidos preparam uma
guerra e essa guerra só pode ser evitada pela mobilização dos trabalhadores em
todo o mundo. Por isso essa Sessão é apenas um primeiro passo. Não somente
porque o desenrolar do próprio conflito faz com que cada vez seja maior o
número de pessoas que começa a compreender que a questão do Golfo não é
simplesmente um problema das massas árabes. Hoje mesmo o preço do combustível
subiu 27% em nosso País. Hoje mesmo o Governo Collor aplicou um novo tarifaço e
o Governo Collor junto com o imperialismo americano faz com que os
trabalhadores brasileiros também paguem o preço da crise no Golfo. E todos
sabem que o Governo Collor aplica uma política genocida de bloqueio econômico
ao Iraque, e é preciso entender que a ONU deixou neste
conflito absolutamente claro que hoje não passa de uma sessão do
Departamento de Estado Norte Americano e que em nenhum momento a ONU teve uma
postura semelhante a que teve em relação ao Iraque para condenar, como já
colocou o representante da OLP, o massacre em Jerusalém. Agora, este,
simplesmente, não é um conflito entre dois países, não se trata, simplesmente,
de um conflito entre Estados Unidos e Iraque, o que se desenrola no Golfo é um
conflito entre classes, um conflito entre a Revolução Socialista Mundial e a
contra-revolução imperialista. E deste ponto de vista não há o que hesitar e
não é possível nenhuma posição intermediária, senão o
apoio absoluto e incondicional ao povo iraquiano, porque todos já colocaram
aqui que os Estados Unidos não foram ao Iraque, não foram ao Golfo Pérsico para
defender a liberdade, porque enquanto os Estados Unidos dá um discurso de
defesa das liberdades democráticas, pisoteia o povo panamenho, pisoteia o povo
latino-americano e o povo do 3º Mundo em geral, todos sabem
que a Arábia Saudita não estava ameaçada e nunca esteve ameaçada pelas tropas
iraquianas. Agora, é preciso dizer em alto e bom
som que a solução política para o conflito do Golfo Pérsico é a derrota do
imperialismo. Não há nenhuma outra opção a não ser a retirada das tropas,
imediata e incondicional. E é com relação a esta batalha que nós precisamos
começar um movimento aqui em Porto Alegre. Este movimento não pode se limitar a
ficar entre quatro paredes. É necessário tomar as ruas das cidades,
como já fizeram milhares de norte-americanos, de franceses, austríacos e
espanhóis.
Enfim, é necessário que aqui em Porto Alegre nós
trabalhadores nos somemos a esta multitudinária campanha internacionalista que
começa, sem dúvida nenhuma a sacudir o mundo inteiro.
Agora, esta campanha está apenas no começo. E a
síndrome do Vietnã que ainda vive os Estados Unidos será reacendida com uma
força muito superior a partir de qualquer tentativa de os Estados Unidos
deflagrarem imediatamente este conflito. Agora, é preciso que nós aqui tenhamos
muita clareza, é necessário cada um dos presentes sejam os companheiros
previdenciários, bancários, metalúrgicos que se encontram nesta Sessão, que nós
temos a tarefa de reproduzir nas nossas categorias a luta contra o imperialismo
norte-americano. Porque esta luta não é simplesmente uma
luta do povo árabe. Não é simplesmente uma luta daquelas, uma luta
daqueles que defendem a revolução árabe, porque este, em última instância, é o motivo
fundamental que faz com que os Estados Unidos vá para o Golfo Pérsico. Não é
simplesmente o controle da matéria-prima, o problema
essencial é político. É tentar segurar o grande levante árabe, que tem o seu
ponto culminante hoje na luta do povo iraquiano, mas que
também tem o seu símbolo mais heróico na Intifada Palestina.
Por isso, eu acho o Sindicato dos Bancários se
coloca à disposição de todos os presentes e acata imediatamente a proposta
apresentada pelo Ver. Alvarenga de formarmos um Comitê de Defesa do
Povo Árabe, de fazer um Comitê de luta pela retirada das tropas norte-americanas
do Golfo. Este é o nosso desafio: colocar para os trabalhadores brasileiros, reascender
a consciência internacionalista e fazer aqui em Porto Alegre uma grande
mobilização contra a guerra e contra as tropas norte-americanas da região.
Muito obrigado.
(Não revisto
pelo orador.)
O SR.
PRESIDENTE: A
Mesa agradece a presença do Sr. Nader Alves Bujah, representante da Organização
pela Libertação da Palestina – OLP Democrática do Brasil; Sr. Raul
Carrion, membro do Diretório Regional do Partido Comunista do Brasil – PC do B; o Sr. Jairo
Ferreira, Presidente do Diretório Municipal do Partido Comunista Brasileiro –
PCB; Sr. Roberto Robaina, Diretor do Sindicato dos
Bancários de Porto Alegre e dos demais presentes nesta Sessão, os Srs.
Vereadores, e encerro os trabalhos desta Sessão.
(Levanta-se
a Sessão às 18h33min.)
* * * * *
Está com a palavra, o Ver. Leão de Medeiros, pela
Bancada do PDS.
O SR. LEÃO DE MEDEIROS: Meus
Senhores e minhas Senhoras. Nada mais agradável em exaltar em meu nome pessoal
e da Bancada do PDS as virtudes do homem de bem sobretudo quando, na atividade
política, o homenageado se situa em terreno diverso do orador, não raro a ele
oposto. Pois se no elogio do correligionário pode surgir e permanecer a dúvida
quanto a autenticidade do louvo, talvez mais inspirado na irmandade de
convicções que o mérito real, no
tributo prestado aos militantes de outras grei a homenagem brota sincera,
proclamando a satisfação de reconhecer que as divergências não elidem o
reconhecimento do mérito que comunica dignidade e valor ao próprio antagonismo
das idéias.
Assim é o homenageado de hoje na
meritória iniciativa do Ver. Elói Guimarães. Firme nas suas convicções, pugnaz
nas atitudes, brilhante no pensamento e na palavra, íntegro na conduta e,
sobretudo, elegante no trato dos opositores, que com ele, sabe afastar do plano
pessoal a divergência das idéias.
Na realidade, são duas as
imagens que ostenta, numa combinação rara e difícil: Petracco, o político
atuante e Petracco, engenheiro destacado. Com o mesmo empenho que se põe a
analisar a realidade social e política, com a mesma percuciente capacidade
analítica que mobiliza no debate do Estado, da Sociedade e da Nação, logrou
construir uma das mais sólidas reputações profissionais no cenário local e
nacional, de engenheiro especializado em, tecnologia da energia e sua
conservação, estabelecido com escritório em Porto Alegre e Pernambuco. No
cenário local, afora inúmeros profissionais de arquitetura que se socorrem de
seu assessoramento no projeto, conta entre seus clientes com algumas das
grandes empresas locais como os grupos Gerdau, Zafarri e Do Sul; no âmbito
nacional, tem projetos executados em Pernambuco, no Pará, em Minas Gerais, no
Rio de Janeiro em São Paulo; já ultrapassa os limites no Brasil, ao negociar
recentemente, na Alemanha, o “Know-how” de um de seus projetos de refreadores
evaporativos.
Como empresário, é responsável
técnico, diretor e acionistas de uma empresa especializada em cordoaria pesada
para atração de navios, sediada em São Leopoldo, exportando regularmente para
as nações que exploram o petróleo do Mar Norte, para a Grécia, a Holanda, o
Chile, Cingapura, a Índia, a Itália e a Inglaterra, em acirrada disputa com a
concorrência internacional, que vem enfrentando com alta qualidade de seu
produto, o qual tem reiteradamente superado recordes mundiais de resistência,
medida em número atrações de grandes navios, a que o cabo resiste incólume.
Nascido em Passo fundo, tem
origens italianas e espanholas. Seu avô paterno, João Baptista Petracco nasceu
em San Vito de Tagliamento, nas proximidades de Udine, na Itália Setentrional;
sua mãe, Argentina, descendida de espanhóis e guaranis. É, pois, na etnia, a síntese do Rio Grande do Sul.
Nosso homenageado é um homem
profundamente marcado pe educação que recebeu influenciado pelos mestres que
encontrou: guarda, com grande carinho, a figura marcante do seu curso primário,
no Grupo Escolar Protásio Alves, em Passo Fundo – a Diretora – que até hoje
visita – D. Maria Súria Dipp, a qual, ainda fazendo as vezes de segunda mãe e
preceptora, escreveu-lhe uma carta, em 1986, que guarda como um documento maiôs valioso de
sua vida, pelo que contém de sábio e de comovente.
Em Porto Alegre, no colégio
Nossa Senhora das Dores, encontrou na figura admirável do Irmão Bento, o
impulso para os livros, que não mais o deixou, a partir da obra de José Ingenieros, em “As Forças Morais” e o “O
Homem Medíocre”. No Colégio Júlio de Castilhos encontrou,, no Mestre de
Química, Abílio Azambuja, outro alicerce de seu futuro perfil de engenheiro.
Ingressou no Curso de Engenharia Mecânica e Elétrica, da Escola de Engenharia
da UFRGS, lá privando com os educadores
notáveis, como Alquindar Pedroso e David Mesquita da Cunha e, também mercê de
sua presença na política estudantil, cosntg5uinbdo grande
apreço e admiração pela figura extraordinária que foi o Reitor Elyseu Paglioli.
Mas, curiosamente, atribui sua inclinação para a área de energia de um mestre
da matéria mias próxima da Engenharia Civil
- o Professor Luiz Duarte Viana, cujo enfoque sobre a estabilidade das
construções, a partir do conceito do trabalho virtual, de alguma forma levou o
jovem Mecânico e Eletricista a sintetizar sua visão no programa de energia.
Diplomado, ingressou, em 1963,
por concurso, nos quadros da Petrobrás e prosseguir, ao mesmo tempo, na
militância política que iniciava no ciclo secundário de sua educação. Segundo
diz, com o humor fino que põe até mesmo em sua auto avaliações, ingressou na
política instado a “combater os comunistas”, mas acabou contaminando-se ao
menos de uma forma atenuada de vírus...
No ano de 1964 o colhe Suplente
de Deputado Estadual pelo PDS. Cassado logo em abril de 1964, só vai ter seus
direitos políticos restabelecidos pela anistia de 1979. Atravessou com coragem
e convicção os anos de provação, talvez porque, ao olhar para este passado, não
veja o que censurar-se, sabedor de que arrostou com dignidade os tempos
adversos e usou a experiência para agradecer-se sem ressentimentos e sem ódios,
granjeando o respeito e admiração até mesmo de muitos adversários. Afastado da
política, voltou-se integralmente para sua outra paixão, permitindo que, de sua
inteligência e labor, surgisse o grande engenheiro em que se transformou (o que
segundo um de seus antigos mestres na escola der Engenharia não deixa de seu um
mérito indireto a crédito dos que o baniram temporariamente da distração
política, prejudicial aos desígnios de engenheiro que bradava por emergir de
sua complexa e agitada personalidade...)
Porto Alegre, ilustre
engenheiro, o faz neste momento, Cidadão Emérito. Nesta distinção está, mais o
projeto ao profissional ilustre, mais que o tributo ao político coerente e fiel
às suas convicções. Está o reconhecimento daquilo que foi reconhecido daquilo
que foi retirado no início desta palavras: a grandeza do homem de bem, que
sobrepujou a adversidade abrindo, com coragem e dignidade, novos rumos para a
sua vida, sem permitir que o veneno do ressentimento o limitasse no mesquinho
realimentar do ódio que é uma desculpa para
a paralisia e o medo! (Palmas.)
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Ver. Flávio
koutzii, que falará em nome da Bancada do PT.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Não
poderia começar sem registrar, porque acho que é uma pequena singularidade,
neste momento,e um dos prazeres da
vida, que são esses reencontros e estas situações. Eu também fui da FEURGS, na
época em que tu começavas a liderar um movimento estudantil
combativo-nacionalista e corajoso e que enfrentou, sob a inspiração e a
liderança de Petracco, nos anos de 1964 e das lutas da legalidade. Me parece
que faz muito tempo, e, ao mesmo tempo, que faz pouco tempo, porque, em parte,
a cassação das nossas vidas, as obstrução dos caminhos dos democratas, dos
homens e mulheres de esquerda neste País, nos permite, recém nesta década,
assumir, publicamente e plenamente, a potencialidade de nosso sonhos, de nossa
capacidade de trabalho e de nossa capacidade de luta. Acho que a intervenção do
Ver. Leão de Medeiros, que me antecedeu, foi muito precisa e adequada, tanto
quanto refez e recontou a biografia, pessoal e profissional, do Petracco,
quanto, de forma muito honrada e elevada, distingui-se a diferença ideológica
que realmente existe entre homens que hoje se definem e no passado também, em
terrenos opostos nas vias e nos caminhos da construção deste País. É uma
demonstração de respeito e é uma demonstração de lucidez. Mas eu quero falar
como irmão de esquerda. Quero falar com aquele que representa o partido dos
Trabalhadores nesta cerimônia, que é um dos resultados dos nossos comuns
esforços, das nossas lutas e de momentos muitos difíceis; e ressaltar que o que
é justamente singular, o que talvez seja o que mais possa-nos emocionar e dar
relevo às cerimônias que as vezes são um pouco formais, é isto que não acontece
todos os dias, é o reconhecimento gradual, incontestável dos méritos de quem
mérito e não mais da seleção dos que tem mérito apenas quando estão num campo
determinado da posição social. Para nós é uma honra e uma satisfação, um
momento de fraternidade trazer a palavra do Partido dos Trabalhadores, de
reconhecimento da trajetória de Fúlvio Petracco e de, fundamentalmente,
destacar o que é evidente, que o que se reconhece nele é o caminho feito, como
militante do povo. Ele foi e é engenheiro, mas entendemos que foi e é e será
sempre, um lutador das causas populares. Esta grandeza, este esforço e esta
generosidade é que são, no nosso entender, o que principalmente se reconhece
hoje. . E quando a Cidade começa a
reconhecer isto, através da sua representação política que somos nós, significa
que ele agrega, ao universos dos seus valores, na identificação do que é
importante, o mérito doas caminhos feitos, o mérito do caminho que tu fizeste.
É isto que se reconhece aqui, é isto que a Bancada do Partido dos Trabalhadores
saúda, através da nossa intervenção nesta tribuna e é neste abraço que nós
queremos te estender, Patracco, nosso companheiro. Sou grato. (Palmas.)
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra,
o Ver. Omar Ferri, pelo PDS, pelo PCB e pelo PC do B.
O SR. OMAR FERRI: Sr. Ver.
Clóvis Brum, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Tarso
Genro, Vice- Prefeito da Cidade; Engenheiro Fúlvio Petracco, nosso querido
homenageado; excelentíssimo Deputado Jauri de Oliveira, Líder da Bancada do PSb na Assembléia
Legislativa; Srs. Terezinha Petracco Grandene,
irmã do nosso homenageado e representante dos demais familiares; Srs.
Vereadores aqui presentes; minhas Senhoras, meus Senhores e de um modo especial
e com muita satisfação aos companheiros do PSB, cuja militância em sua quase
totalidade veio trazer os eu abraço a sua saudação e a sua
solidariedade àquele que simboliza o que significa e dá forma e conteúdo ao
próprio Partido no Rio grande do Sul, Sr. Fúlvio Celso
Petracco. Eu não sei se é fácil ou difícil dirigir algumas palavras nesta tarde
ensolarada, nesta solenidade que para nós toca profundamente o âmago de nossos
corações. Porque par anos do Partido
Socialista o Petracco realmente simboliza o próprio Partido no Rio Grande do
Sul. Muitas vezes tem pessoas que fazem confusão com o PDS e se referindo Amim dizem – tu
é do PSDB do partido do Petracco – a aí as cosias se esclarecem. Mas, a
homenagem é acima de tudo a um Engenheiro competente, a um profissional
brilhante e a um homem condutor e de uma postura ideológica sem par em nosso
Estado. Eu digo sem par porque são dezenas de anos que o Petracco vem
magistralmente nas lutas em favor da nacionalidade Brasileira.
Então me parece que aí está
maior lição do Petracco para todos nós. E eu até falo com muita tranqüilidade,
razão porque agora vou fazer um esclarecimento, Petracco, a ti,, ao público,
ao dizer que eu vinha registrando até os dias de hoje mas acho que este é o
momento solene, este é o momento que eu devo te agradecer na medida exata de
tua grandeza. Eu resisti a entrada no PSB, por causa da imagem de certa gente
que te apontava como autoritário dentro do Partido, eu vinha resistindo, eu
inclusive já vinha colaborando com o Partido, mas não assinava ficha. E de
repente por estas contingências da vida eu devo a assinatura da ficha de
filiação a um grande irmão e companheiro nosso que infelizmente hoje não se em contra aqui,
que é o Dr. Bruno Mendonça Costa. E passei a conviver contigo dentro do Partido
e posso dizer tranqüilamente, de público, que eu não sei muitas vezes se
constrói imagens diferentes do próprio sentimento e do próprio comportamento de
uma pessoa. E esta foi a tua imagem durante algum tempo, Petracco: O
autoritário. Não sei como é e porquê,s e durante
todas as reuniões deste último ano e meio que eu convivo com a direção
Partidária, em nenhuma vez eu assisti que tu tivesse tomado uma atitude fora do
contexto e do consenso de todos nós.
Estão
encerrados os trabalhos.
(Levanta-se a
Sessão às 18h34min.)
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